sexta-feira, 26 de junho de 2015

O encanto do caos

Sabe, tem horas que a vida pede calmaria em outras a calmaria pede vida. E num constante balançar de desejos o sim e o não se complementam e se distanciam de maneira tenra, sublime, sutil, avassaladora!
      A vida é como um sorvete de chocolate com cobertura de vinho do porto, doce, amarga e de veras, forte... Mas, chega um momento em que toda essa fortaleza se desmorona, não para renascer frágil, não para ser pedaço, não para ser diluição, mas para multiplicar-se ... E com a tal da multiplicação os pedacinhos de fortaleza que em outrora eram vistos como elementos de um todo, tornam-se particulares, únicos, repletos de individualidade.
      Eis que surge uma individualidade fascinante, daquela de quem já fez parte do todo, e, se aquieta apenas para observa-se mais de perto, com carinho, com cultura, com solidez. Paradoxal? Um tanto, mas é exatamente do caos que emergem as grandes transformações, é de uma bagunça de pensamentos que brotam as grandes ideias, são desorganizações sinápticas que fazem um agrupamento sutil de bem-estar. Ali, bem no comecinho do conhecimento... Se no cérebro é dessa maneira, imaginemos no macrocosmo!
     Certa vez ouvir falar que o corpo humano é uma espécie de microuniverso... Fantástico argumento, analisando bem, são reações enzimáticas que ocorrem no caos, não ao acaso, mas num processo intenso de transformação de energia. Se no corpo humano, puramente fisiológico, o caos opera com maestria, como ocorreria na mente individual e coletiva?
     Pensar, agir, construir. Tão corriqueiro ouvir tais verbos cantarolados diariamente, palavras ao vento? Se o ser humano é um caos fisiológico ambulante, como posso esperar uma sociedade organizada, perfeitinha, dotada de regras e preceitos? É simples, caro amigo leitor, até para ser caos é necessário ter um quê de organização, definição...
      Precisa no meio do êxtase enérgico criar algo, não porque se obriga, mas, porque é natural... E, o caos é simples, é indolor, é dotado de conhecimento apenas por mudar paradigmas, pela singela necessidade de criar o novo, de evoluir. Talvez seja por isso que tudo é mutável. E assim as verdades ‘’absolutas’’ de hoje foram as mutações caóticas do ontem.
      E quem consegue dizer que sim? Alguém se atreve a dizer que não? São misturas de pensamentos tangíveis e intangíveis... E como ter sanidade mental em meio a um turbilhão de pensamento? E como ser insano? São pensamentos arraigados a constante necessidade humana de liquidar com sua fome de saber, de amor, de sucesso, de família. É encantadora a necessidade humana de ser sempre mais, de ser poema, de ser notícia, de ser proza, de ser filme, de ser emoção e razão. É belo ser individual coletividade...
       E que a mutabilidade reine na essência caótica da natureza humana, e que um dia consigamos nos orgulhar de tudo isso!

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